Como realizar coleta de amostras
COMO REALIZAR COLETA DE AMOSTRA
Realizar coleta de amostra em equipamentos ou máquinas exige critério técnico rigoroso. A forma como o material é coletado influencia diretamente a confiabilidade do ensaio e, por consequência, do laudo que será emitido.
No ambiente industrial, não raramente surge a ideia de simplesmente coletar fragmentos diretamente de componentes em operação, como se isso fosse agilizar o processo. Essa abordagem precipitada compromete a integridade do material coletado, viola premissas normativas e pode resultar em análises sem representatividade.
Laboratórios responsáveis não improvisam. A obtenção de amostras para ensaio deve preservar o estado do item avaliado, assegurando rastreabilidade, conservação física e aderência às condições originais. Sem isso, o resultado perde fundamento técnico e validade documental.

POR QUE A INTEGRIDADE DA AMOSTRA DEFINE A QUALIDADE DO LAUDO?
A confiabilidade de um ensaio começa ainda na fase de coleta de amostra. Se o material não preserva sua condição original, o resultado laboratorial perde sustentação técnica. Quando a amostra é retirada de lote novo, identificada pelo fabricante com data e referência técnica, estabelece-se a rastreabilidade necessária para elaboração do laudo.
A norma ABNT NBR ISO/IEC 17025 (Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração) determina que o item de ensaio seja identificado de forma inequívoca, preservado em sua integridade física e química e documentado em todo o seu fluxo, desde a origem até a conclusão do ensaio.
A tentativa de coletar material diretamente de componentes em operação costuma alterar propriedades e comprometer representatividade. Ao violar as condições originais do item, o resultado analítico deixa de ser tecnicamente defensável e a rastreabilidade normativa fica prejudicada.
AMOSTRAS ALTERADAS: POR QUE O LAUDO PERDE CONFIABILIDADE?
Uma amostra coletada de uma peça ainda em uso já não representa o estado original do material. Durante a operação, o componente sofre desgaste mecânico, elevação de temperatura, exposição a contaminantes, perda de partículas e transformação microestrutural inevitável. Esses fatores alteram a composição e interferem diretamente no resultado do ensaio laboratorial.
Materiais de fricção, como pastilhas, são exemplos emblemáticos dessa distorção. Retirar amostra após o uso significa analisar um composto modificado pelo atrito, e não o produto especificado pelo fabricante. Nessas condições, o ensaio passa a medir efeitos do serviço e não propriedades do lote original, comprometendo a validade do laudo e a rastreabilidade técnica.
COLETA DE CAMPO: DIFERENÇA ENTRE AR E MATERIAL
A coleta no ar e a coleta em materiais sólidos não têm o mesmo propósito. Separar essas finalidades evita erros na interpretação dos resultados.
• a avaliação de fibras no ar utiliza bomba e filtro, com contagem microscópica conforme NR 15 – Anexo 12 (Atividades e Operações Insalubres – método por filtro de membrana e microscopia de contraste de fase)
• essa verificação trata da exposição respiratória do trabalhador, não da composição da peça
• o teor ou presença de amianto em pastilhas requer amostra sólida de lote novo, com rastreabilidade e referência técnica
• a análise qualitativa e quantitativa segue a ISO 22262 (Análise de amianto em materiais – identificação e quantificação)
• coletar fragmentos de pastilhas já usadas para justificar condição do ar altera o objeto do ensaio
• o resultado deixa de representar o lote original e perde validade técnica
NORMAS SÓLIDAS PARA COLETA DE FIBRAS NO AR
O que se mantém tecnicamente consistente na avaliação de fibras respiráveis é adotar referências que tratam diretamente de métodos de coleta e contagem. As bases mais defensáveis são:
• NR 15 – Anexo 12 (Atividades e Operações Insalubres – método por filtro de membrana e microscopia de contraste de fase) define limite de tolerância para fibras respiráveis de asbesto crisotila e o critério de fibra respirável
• NHO 04 – FUNDACENTRO (Procedimento técnico para avaliação da exposição ocupacional a fibras respiráveis por microscopia óptica de contraste de fase – MOCF) estabelece método brasileiro consolidado
• ISO 8672 (Determinação da concentração de fibras inorgânicas suspensas no ar por microscopia óptica de contraste de fase em filtro de membrana) apresenta referência internacional equivalente
• NIOSH 7400 e NIOSH 7402 (Métodos de contagem de fibras por PCM e confirmação por TEM) complementam a cadeia metrológica para diferenciar asbestos de outras fibras quando necessário
O que confunde o escopo é inserir normas que tratam de qualidade do ar interior voltada ao conforto e não à higiene ocupacional. Exemplo clássico: a ABNT NBR 16401 (Sistemas de ar-condicionado – qualidade do ar interior para conforto térmico), que não é apropriada para avaliar fibras respiráveis.
Uma norma brasileira mais pertinente ao objeto de prova quando se trata de fibras no ar é a ABNT NBR 13158 (Coleta e análise de fibras inorgânicas respiráveis – método por microscopia óptica de contraste de fase em filtro de membrana), porque aborda a amostragem e o procedimento analítico diretamente voltados à exposição ocupacional.
AUTERAÇÃO DO LABORATÓRIO NA COLETA DE AMOSTRA?
A ABNT NBR ISO/IEC 17025 (Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração) exige que o laboratório controle de forma documentada tudo o que envolve o item de ensaio, incluindo, quando for o caso, a própria etapa de coleta de amostra, seu manuseio, identificação e preservação.
• o item de ensaio precisa manter a condição em que se pretende avaliá-lo
• a amostragem, quando realizada pelo laboratório, deve seguir plano e método definidos, considerando fatores que impactam a validade do resultado (cláusula 7.3)
• o manuseio exige identificação clara, preservação da integridade e rastreabilidade de todo o percurso até a emissão do laudo (cláusula 7.4)
Quando a amostra é coletada diretamente de um componente já instalado, usado, aquecido, desgastado e sujeito a contaminações, esses requisitos deixam de ser atendidos. A representatividade do lote fica comprometida e abre espaço para discussões sobre cadeia de custódia, contaminação cruzada e validade do próprio ensaio.

COLETA DE AMOSTRAS EM MATERIAIS DE FRICÇÃO
Quando o material já passou por serviço, a amostra deixa de refletir o que foi fabricado. Atrito, temperatura e contaminação transformam sua composição. O ensaio, nesse cenário, avalia apenas um resíduo do uso, não o lote original.
Sem lote identificado, sem referência técnica e sem controle de origem, não existe rastreabilidade. Essa fragilidade abre espaço para interpretações equivocadas: perda de fibras pode simular ausência do contaminante; partículas externas podem sugerir presença indevida.
Para um resultado tecnicamente sólido, a coleta deve ocorrer em lote novo, rastreável e preparado conforme procedimentos destinados a materiais a granel estabelecidos pela ISO 22262 (Análise de amianto em materiais – identificação e quantificação). Essa rota elimina contaminações do uso e preserva a confiabilidade do laudo.
CONSEQUÊNCIAS OPERACIONAIS DA COLETA DIRETA NO EQUIPAMENTO
Coletar amostra retirada de componente ainda instalado pode interferir na operação normal do equipamento. A simples retirada de material pode alterar ajustes, comprometer desempenho e descumprir orientações do fabricante quanto à manutenção e garantia.
Essa intervenção também cria responsabilidade contratual. Se o equipamento apresentar falha posteriormente, a modificação realizada para coletar a amostra pode ser questionada como causa ou agravante.
Há ainda o risco ocupacional. Em componentes que utilizam materiais de fricção, a manipulação inadequada pode liberar fibras e particulados durante a coleta. Sem planejamento e controle, a coleta vira fonte de exposição desnecessária.
POR QUE A AMOSTRA DEVE SER NOVA E RASTREÁVEL?
O objetivo de um ensaio em material de fricção é responder se aquele item, daquele fabricante e lote específico, contém amianto e em qual concentração. Para isso, a amostra precisa representar exatamente o que foi produzido, não o que foi alterado pelo uso.
• material novo conserva a composição original
• lote identificado permite rastreabilidade documental
• a ficha técnica do fabricante elimina dúvidas sobre origem
Quando a amostra vem usada, surgem variáveis imprevisíveis: desgaste altera propriedades, perda de partículas mascara resultados e contaminações externas criam ruído analítico. A origem deixa de ser comprovável, e qualquer laudo pode ser contestado.
Há ainda marco regulatório que sustenta essa exigência. Regulamentos do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) para materiais de atrito exigem ausência de amianto e citam método ótico baseado na norma SAE J (padrão internacional para avaliação laboratorial de materiais de atrito), reforçando que a avaliação deve ser feita sobre material rastreável.
Assim, recomenda-se declarar formalmente que a Contratante fornecerá as amostras novas de mesmo modelo e lote, com documentação técnica. O laboratório realizará ensaio destrutivo apenas nessas amostras, observando requisitos de identificação, manuseio e rastreabilidade definidos pela ABNT NBR ISO/IEC 17025 (Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração).
FECHAMENTO TÉCNICO PARA EVITAR LACUNAS NO ENSAIO
Para avaliar fibras no ar, as referências consistentes são a NR 15 Anexo 12 (Atividades e Operações Insalubres método por filtro de membrana e microscopia de contraste de fase), a NHO 04 FUNDACENTRO (Avaliação da exposição ocupacional a fibras respiráveis por microscopia óptica de contraste de fase), a ISO 8672 (Determinação da concentração de fibras inorgânicas suspensas no ar por microscopia óptica de contraste de fase) e os métodos NIOSH 7400 e NIOSH 7402 (Contagem por PCM e confirmação por TEM).
Para materiais como pastilhas de fricção, o ensaio deve seguir a ISO 22262 (Análise de amianto em materiais identificação e quantificação), regulamentos do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia requisitos de avaliação para materiais de atrito) e documentação técnica do fabricante que vincula modelo e lote.
A rastreabilidade, preservação e identificação das amostras seguem requisitos da ABNT NBR ISO IEC 17025 (Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração).
A coleta feita diretamente em equipamento instalado pode comprometer representatividade e cadeia de custódia do material, enfraquecendo o laudo e ampliando risco de contestação técnica.
COLETA EM OPERAÇÃO NÃO ATENDE AOS REQUISITOS TÉCNICOS
Existe um equívoco recorrente: imaginar que basta retirar parte do material durante o funcionamento do equipamento e enviá-la ao laboratório.
• coletar durante a operação altera as propriedades do material
• o item pode estar contaminado e sem comprovação documental de origem
• a condição original da amostra já não pode ser preservada
• normas exigem rastreabilidade e identificação inequívoca
• o laudo não corrige uma coleta inadequada
O laboratório trabalha com amostras representativas e controladas, não cria variáveis que depois precisam ser explicadas tecnicamente.

A INTEGRIDADE DA AMOSTRA DETERMINA A VALIDADE DO RESULTADO
O ensaio laboratorial só é confiável quando a amostra representa o material original antes de qualquer intervenção. Esse é um princípio técnico recorrente em normas sérias de ensaio.
A ABNT NBR ISO IEC 17025 (Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração) orienta que o laboratório assegure:
• condição física preservada
• identificação clara do item
• rastreabilidade documentada
• manutenção das características originais
Se a amostra é retirada de um componente em pleno funcionamento, esses requisitos deixam de ser atendidos. O laboratório passa a analisar efeitos da retirada, desgaste e contaminação, e não o material tal como fabricado.
O EQUÍVOCO COMUM AO COLETAR AMOSTRA DE COMPONENTE EM OPERAÇÃO
É frequente alguém sugerir retirar parte do material enquanto o equipamento está funcionando e encaminhar ao laboratório. A proposta parece prática, mas revela desconhecimento técnico.
Quando o componente está em serviço, sofre desgaste, elevação de temperatura, acúmulo de contaminantes e perdas físicas. Sua microestrutura já não corresponde ao estado original. Em materiais contendo amianto, como pastilhas de fricção, o atrito pode liberar fibras ou incorporar partículas externas, o que distorce completamente o resultado.
Nesse cenário, o ensaio já não mede o material conforme foi fabricado, mas sim um resíduo transformado pelo uso. O resultado obtido não representa o lote original e pode induzir o laboratório, o contratante e o perito a conclusões equivocadas.
EXEMPLOS EM QUE A COLETA EM OPERAÇÃO DEVER SER EVITADA
• sistemas de frenagem ou desaceleração, quando desmontados para amostra, sofrem alteração física que inviabiliza representar o lote de origem
• barreiras isolantes aplicadas em superfícies quentes apresentam degradação e risco de exposição ao serem manipuladas para retirada
• acabamentos protetivos sujeitos à corrosão trazem resíduos e impurezas incorporadas pelo uso, o que contamina a amostra
• elementos destinados a sustentação ou retenção, após ciclos de carga, já não expressam as propriedades originais previstas em ficha técnica
• subconjuntos mecânicos que dependem de ajuste fino podem ter seu equilíbrio comprometido ao serem desmontados para coleta
Quando o ato de retirar o material altera o comportamento do sistema, o resultado do ensaio perde referência com a condição original.
EXIGÊNCIA BÁSICA DA ENGENHARIA PARA UMA AMOSTRA VÁLIDA
Para que o ensaio tenha fundamento, a amostra precisa ser proveniente de lote novo, correspondente ao modelo e fabricante aplicados. Ela deve chegar íntegra, com identificação clara de origem, data, local e documentação técnica anexada, incluindo a ficha do fabricante. O registro fotográfico e documental fecha a rastreabilidade.
Quando esses requisitos são atendidos, o laboratório consegue estabelecer comparações objetivas e defender tecnicamente o resultado, inclusive perante auditorias ou litígios. A amostra representa o produto original e não os efeitos do uso.
Em materiais com possível presença de amianto, esse cuidado é ainda mais crítico. A ISO 22262 (Análise de amianto em materiais identificação e quantificação) se baseia em material íntegro e controlado, o que reforça que a coleta deve ser realizada antes da instalação ou operação.
COLETA INADEQUADA EM OPERAÇÃO: POR QUE O LABORATÓRIO NÃO EXECUTA ESSA PRÁTICA?
A atuação do laboratório de ensaio não envolve desmontar equipamentos, realizar manutenção ou assumir riscos operacionais no ambiente do cliente. Essa intervenção poderia inclusive romper garantias do fabricante e gerar situações de exposição desnecessária.
A ABNT NBR ISO IEC 17025 (Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração) estabelece que, quando houver responsabilidade sobre a coleta, deve existir um plano formal de amostragem, com métodos definidos e controle das variáveis que impactam o resultado. Se a amostra chega modificada pela operação ou retirada sem controle, sua representatividade é comprometida.
Retirar material diretamente do equipamento não constitui plano de amostragem. Essa prática é improvisação e fragiliza o valor técnico do laudo.

O QUE PODE SER CONCLUÍDO ENTÃO?
A coleta realizada diretamente em equipamento em operação não gera evidência confiável. A única base sólida para ensaio é a amostra nova, íntegra e rastreável. Laboratório não compensa falha de coleta. Se o erro está na origem, o laudo nasce frágil.
Sugerir retirar material instalado “apenas para testar” não é atitude técnica arrojada, mas descuido profissional. O método da engenharia exige planejamento e controle, não improviso.
Recomendação formal para o contrato e termo de referência: a coleta de material diretamente instalado no equipamento não será realizada, por comprometer integridade, representatividade e rastreabilidade do item de ensaio. Para fins didáticos, pode-se registrar que a retirada de material instalado constitui intervenção não conservativa, incompatível com boas práticas de ensaio laboratorial.
Colete certo, laude certo. Clique e garanta conformidade.
Autor
Engenharia Agronomica
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